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WSOP: documentário “No Limit” é retirado do ar por uso de IA

WSOP: documentário “No Limit” é retirado do ar por uso de IA

O documentário “No Limit”, produzido por Dustin Iannotti, em parceria com a World Series of Poker (WSOP), foi retirado do ar no último domingo (23) após ser identificado o uso de inteligência artificial (IA) para alterar algumas citações do jogador e criador de conteúdo Alan Keating, nos episódios 5 e 6 da série.

A situação gerou várias discussões entre a comunidade, que reagiu de maneira negativa as modificações. Filmada durante a WSOP Paradise de 2024, a produção cinematográfica condensou mais de 650 horas de bastidores em oito episódios de pouco menos de 30 minutos, revelando histórias de diferentes jogadores – desde celebridades como Daniel Negreanu até “azarões” que chegaram ao US$ 25K Super Main Event.

Meses atrás, Dustin Iannotti havia publicado em suas redes sociais um texto onde criticava arduamente o foco das produções de conteúdo no universo do poker e, meses depois, se vê no centro de uma das polêmicas mais graves do jogo nos últimos anos. Confira os desdobramentos da história neste artigo que a PokerListings preparou para você.

Alan Keating denuncia uso de IA em sua participação no documentário

Um dos nomes mais populares do poker no mundo atualmente, Alan Keating é um verdadeiro “monstro” dos cash games em high stakes. Não à toa, sua participação no documentário foi uma das mais citadas entre os fãs e os veículos de comunicação, em especial por uma declaração específica.

No quinto episódio, o jogador afirma que os cash games são “mais poker” do que torneios, “desmerecendo” este formato de jogos. “Jogadores de torneio vão me odiar. Quero ser gentil, mas compararia como xadrez e damas. Torneios são como damas para mim”, disse o astro do poker.

Entretanto, pouco tempo depois do lançamento do episódio, o jogador foi as redes sociais para denunciar o uso de IA para alteração de algumas de suas falas, criticando a produção do documentário pelas modificações não-autorizadas. As publicações, agora apagadas, revelaram quase uma dezena de falas modificadas, entre elas “Eu acho que os cash games são testes maiores para o homem do que os torneios” e “Eu odeio dizer isso. Eu realmente me divirto muito quando sei que alguém está verdadeiramente frustrado”, revelou o portal PokerNews, que teve acesso às publicações antes da exclusão.

Criador do documentário admite erro e responde a Keating

Dustin Iannotti's
Dustin Iannotti’s

Nas redes sociais, Dustin Iannotti foi sincero, admitindo que utilizou IA para modificar algumas partes das declarações de Keating. Entretanto, o documentarista minimizou o problema, afirmando – em publicação também excluída – que usou a inteligência artificial em duas partes, que totalizaram 10 segundos.

Em sua publicação, Iannotti escreveu: “Como parte do time de produção do canal de Keating no YouTube, nós sempre tentamos prezar pelos interesses do jogador e estamos comprometidos com nossa parceria criativa. Gostaríamos que isso tivesse sido resolvido privativamente, mas entendemos que as emoções podem ser afloradas quando tratamos de trabalhos criativos”, publicou.Keating não aprofundou as discussões nas redes sociais, mas desaprovou claramente o comentário de Iannotti. A situação piorou quando o produtor respondeu a alguns comentários de Will Shillibier na mesma rede social, afirmando que “editar coisas fora de contexto” é uma “prática padrão para programas” e que não existem um “reality show ou documentário que não faça isso”, tentando justificar seu erro.

Meses antes, Iannotti criticou “falta de criatividade” na indústria

Poucos meses antes do lançamento do documentário, Dustin Iannotti havia publicado na sua conta do X um desabafo onde criticava o direcionamento das produções de conteúdo no universo do poker. Na época, o produto afirmou que o poker estava “contando a história errada por 20 anos” e que “a indústria do conteúdo no poker” estaria quebrada.

Enquanto outros jogos tornam uma audiência nichada em fenômenos globais, nós estamos reciclando fórmulas para o mesmo núcleo de audiência.

A luta-livre é roteirizada, o xadrez é silencioso, o golfe é lento. Todos os três são sensações na Netflix, com milhões de fãs. O poker – onde as pessoas literalmente arriscam suas vidas enquanto participam de uma guerra psicológica – mal pode ultrapassar 250K visualizações no YouTube […]

99% do conteúdo sobre apostas é para o 1% que já joga. Enquanto sites brigam pelos mesmos jogadores, eles ignoram os 300 milhões de fãs potenciais que estão buscando um drama real.

O que a Fórmula 1, xadrez e luta-livre profissional tem que o poker não? Não é uma audiência more. Não é mais drama. É uma visão específica sobre histórias que os criadores de conteúdo do poker ignoram:

O foco em PESSOAS na frente e no jogo depois. Eles criam PERSONAGENS, não apenas campeões. Eles criam EMOÇÃO, não apenas estudos. Enquanto isso, os sites de poker investem milhões em novas ferramentas e melhoras para a interface, enquanto não fazem nenhum conteúdo próximo de original e impactante. Preferem gastar US$ 3 milhões otimizando o lobby do que US$ 1 milhão em uma história que pode trazer milhões de jogadores novos”, desabafou na época.

As críticas acabaram se voltando contra Iannotti, que agora sofre pelo “excesso” de criatividade: substituindo falas reais por citações falsas para criar mais engajamento em sua série documental. 

“No Limit” retornará ao YouTube após nova edição

Também no dia 23 de novembro, a World Series of Poker publicou em suas redes sociais um pedido de desculpas pelo uso de IA na série documental, afirmando que os vídeos passarão por uma nova edição antes de voltar para o ar.

Com um foco diferente do comum, a série não se preocupa tanto com o que aconteceu nas mesas, mas focou na vida que cerca o jogo, recebendo famosos como Phil Hellmuth e Daniel Negreanu em seus episódios. Além de jogadores consolidados, a série também explorou outras história do poker, como a de um jogador que largou uma carreira estável para se tornar profissional no jogo de cartas.

A produção havia empolgado a comunidade do poker, que tem grande expectativa pelo retorno dos “tempos áureos” do poker. A série documental, que explorava um lado mais pessoal do poker, tinha o potencial de alavancar o jogo para mais pessoas que ainda não estão inseridas no universo.

Apesar da expectativa de retorno, ainda não existe uma data para a republicação dos vídeos no YouTube. Além dos seis episódios que já haviam sido publicados, outros dois ainda não estavam no ar.