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Por que o “gatekeeping” no poker deve ser parado?

Por que o “gatekeeping” no poker deve ser parado?

Operadores de poker gastam muito dinheiro e recursos (humanos) tentando atrair mais jogadores recreativos. Mas, apesar de todas as mudanças positivas dos últimos anos, algumas coisas continuam a atrasar o crescimento do poker – e uma delas é o gatekeeping.

Já que o tópico nunca fica antigo, a PokerListings lhe convida a aprender mais sobre o fenômeno do gatekeeping no poker, o que diferentes jogadores pensam sobre isso e por que é melhor para o futuro do jogo nos livrarmos disso.

O que é o gatekeeping?

A origem do termo “gatekeeping” não tem conexão com o poker ou outros jogos. O termo foi usado inicialmente pelo psicólogo Kurt Lewin, em 1943, para descrever o processo de filtragem da informação, feito pelos meios de comunicação, antes das publicações.

Segundo o dicionário Cambridge, as pessoas usam agora o termo para descrever “a atividade de tentar controlar quem tem recursos, poderes e oportunidades particulares e aqueles que não tem”. Entretanto, essa definição não explica completamente o fenômeno que iremos discutir neste artigo.

A interpretação moderna de gatekeeping é usada pelos gamers e outras comunidades de fãs para explicar um processo de dois estágios:

  1. Membros envolvidos ao extremo, tóxicos e experientes, que tentam descrever quem é são os “reais” e os “fakes” em uma comunidade.
  2. Se um novato ou membro existente não respeita essas condições – ou as questiona – eles são rejeitados imediatamente pela comunidade.

O gatekeeping varia dependendo da área de interesse e está normalmente baseada em um desejo interno de quem o pratica. Dito isso, podemos facilmente diferenciar três tipos:

Os primeiros são os protetores do “cânon”, tendo como um dos exemplos mais ilustrativos os fãs de Tolkien. Alguns membros apaixonados ao extremo ditam o que é considerado cânon – ou seja, dizem o que é verdadeiro para a visão do autor com base na sua interpretação – e rejeitam todos que os rejeitam, tem pouco conhecimento ou não entendem essas obrigações.

Os segundos são os que filtram pelo nível de experiência. Eles podem ser vistos em várias comunidades que giram em torno de jogos online ou de tabuleiro – por exemplo, uma comunidade de Elden Ring ou outro Soulslike similar. Jogadores experientes normalmente zombam de novatos que não tem tanta habilidade, perguntam “burrices” ou não conhecem a lore/mecânica do jogo – mesmo que sejam seus primeiros minutos de gameplay.Os terceiros são a elite esnobe. Um bom exemplo é a comunidade de Warhammer, onde os “verdadeiros” fãs veem o jogo e sua barreira financeira como um símbolo de status – e afastam todos os que criticam ou desafiam essa forma de ver o mundo.

Por que trazer o gatekeeping para o poker é ruim?

Jogadores profissionais que praticam o gatekeeping possuem, todos, um destes três tipos de comportamento:

  • Definem o que é canon no poker – fé no GTO, exploits, estratégias específicas ou “regras” extras. Quando alguém desvia, como jogadores recreacionais ou novatos fazem frequentemente, eles esculhambam os “errados” para todos verem, insistindo que isso não é “poker real”.
  • Eles tem desdem pelos jogadores menos experientes, zombam de recreativos, amadores e novatos que se divertem, cometem erros ou possuem lacunas de conhecimento. 
  • Eles agem com o “ego inflado” – como se o poker fosse uma elite super sofisticada impossível para os meros mortais – e tratam outros participantes com condescendência e arrogância.

Esse comportamento é diretamente contrário ao fato de que ter jogadores não experientes no poker é bom para qualquer regular. De modo contrário, quem financiaria esse ecossistema onde os regulares fazem seu dinheiro?

O “piadista” Barry Carter, da comunidade do poker, recentemente postou um meme brilhante no X (antigo Twitter) que traduz a natureza deste problema:

Jogadores profissionais de poker que dependem do dinheiro de recreativos após um recreativo sentar na mesa

“Jogadores profissionais de poker que dependem do dinheiro de recreativos após um recreativo sentar na mesa”.

Seu humor levou muitos jogadores a compartilharem suas visões sobre gatekeeping. Nós coletamos alguns exemplos das respostas, com algumas conversas da thread “Eu odeio quando regulares tratam mal ou são impacientes com jogadores novatos/nervosos e isso acontece o tempo todo” no r/poker do Reddit.

gooners345:

Esses regulares de merda são imbecis, não são os conservadores que são garantir que todos recebam.

Isso acontece tanto e é tão frustrante. Pouquíssimas pessoas são amigáveis com novatos quando eles cometem erros, jogam fora de seus turnos, perguntam se podem aumentar ou pedem explicação sobre a linha de apostas, entre outras coisas.

Meses atrás, um cara se sentou na nossa mesa, ele era um doutor de meia-idade que estava no hotel para uma conferência e decidiu dar uma chance para o poker. Cara bacana, foi no buy-in mais alto. Ele foi massacrado na mesa por dois regulares – mesmo comigo defendendo ele) e depois de 20 minutos, se levantou e disse: “É, talvez o poker não seja para mim”… e saiu. 

Andrew George:

No meu pouco tempo jogando presencialmente, eu vi muitas vezes regulares esculachando recreativos. Eu faço tudo que posso para fazer recreativos se sentirem a vontade.

Nesta noite, uma pessoa insinuou que eu estava sendo malandro com um recreativo por tentar mantê-lo envolvido na mesa.

O poker realmente quer novos jogadores?

PrepareForReckoning:

Eu vejo essa merda o tempo todo. Ouço jogadores reclamarem como são estúpidos alguns jogos, mas insultam novatos sem parar e alfinetam quanto eles jogam mal ou perdem dinheiro.

Mano, é o dinheiro deles. Deixe eles jogarem como quiserem. Se estão fazendo jogadas ruins, isso é vantagem sua. Deixe eles aproveitarem a atmosfera e a experiência.

Christian Harder:

Eu jogo faz um bom tempo e não vejo as coisas desse jeito. A maioria dos “pros” que são otários com recreativos não são jogadores profissionais no longo prazo. Você vai ver o que Barry está falando mais em torneios de US$ 1K do que em torneios com buy-in de US$ 10 mil ou mais por um motivo.

Purple-Internet6133:

Existe uma hierarquia social estranha onde regulares tentam ficar no topo fazendo um gatekeeping severo como esse. Até mesmo a maioria dos dealers não gosta deles, a menos que deem gorjetas. 

50byHalftime:

Uma das razões pelas quais eu odeio jogar presencialmente. Todos os regulares se conhecem e conhecem os dealers. Eles o fazem se sentir estranho, fora das conversas.

kodiak_kid89:

Precisa ter sangue-frio nesse jogo. Você querer que regulares sejam legais só para ganhar dinheiro de jogadores ruins também não é honroso.

Ronnie O’Sullivan:

Agora você está escrevendo o evangelho. Eles nos odeiam, mas não vivem sem nós.

Eu sou um gatekeeper do poker. O que fazer?

Como Spraggy uma vez disse no X (quando ele ainda era Twitter):

“É um jogo de cartas. Deixe as pessoas se divertirem”.

Jogadores novos só querem aprender o básico para decidir se querem se manter – recreativamente ou profissionalmente.

Jogadores recreativos escolhem esse meio como um lugar onde gastar um pouco de dinheiro como entretenimento e, quem sabe, ganhar as vezes.

Amadores já estão apostando ativamente no poker como carreira.

E todos eles podem deixar o jogo – e parar de investir em nosso ecossistema – por conta de você.

Então, se você sente a necessidade de dizer como alguém deve jogar, apontar seus erros ou comentar suas decisões – pare e se pergunte: por que isso importa para mim?

Suas reações não dizem nada sobre seus oponentes, mas revelam um ponto importante sobre sua própria personalidade, motivações e fraquezas. Use esse momento para refletir. Tente manejar seus sentimentos sem machucar os outros.

Se jogadores inexperientes lhe dão gatilhos, lhe irritam ou trazem hostilidade para você, talvez seja melhor ir ao terapeuta ou coach mental para explorar a raiz dessas reações.

E, por fim, se você se acha melhor comparado a outros jogadores – tudo bem, você pode. Mas tente parar de demonstrar superioridade sobre eles nas mesas.